Eu gosto de livros que falam da solidão




Você já deve ter ouvido falar que, quem gosta de escrever, também costuma gostar de ler. Nem sempre é verdade, a internet está aí para nos mostrar a capacidade que as pessoas têm de falar e escrever sem nunca ter lido 10 linhas sobre o assunto.

Acontece...

Comigo, a vontade de ler fez parte da minha vida desde que comecei a conhecer as palavras. 

Quando eu tinha 6 anos, estudava em uma escola municipal perto de casa. A professora que me ensinou a ler se chamava Márcia e, até hoje, tenho um carinho profundo por ela.

Naquela época, era comum que os alunos tivessem carteirinha na biblioteca da escola para emprestar livros. Lembro perfeitamente do dia que minha mãe fez a minha.

Enquanto ela mostrava meus documentos para a bibliotecária, eu fui até a prateleira, sentei no chão com as pernas cruzadas e comecei a escolher.

O chão da biblioteca era feito de taco de madeira e o lugar brilhava com a luz do sol durante o dia. Lembro de olhar para a minha mãe e sentir uma felicidade tão grande. Escolhi 3 livros e emprestei eles com a minha carteirinha. Um documento simples, com minha foto, nome e série. Cuidadosamente guardado em um plástico para proteger o papel do tsunami que eu era. 

A foto abaixo é para te ajudar a visualizar como eu era. Ela foi tirada para o meu "certificado de alfabetização". 


25 anos depois, já sei que ler e escrever são atividades que me conectam com quem eu gosto de ser.

Agora, no momento presente da vida, eu gosto de ler muito sobre a solidão. Acho que a leitura e a solidão são incríveis juntas, coexistindo em um lugar onde ninguém precisa se anular para dar espaço pra ninguém.

Recentemente, li um livro chamado "A gente mira no amor e acerta na solidão", da Ana Suy. O livro é bonito do começo ao fim, com ideias que rendem meses de terapia.

Dentre tantas coisas importante que aprendi com ele, destaquei uma frase que me chamou bastante a atenção:

"Quando o outro vai, a gente fica com a gente" (página 82).

Do ponto de vista lógico, a frase não tem grandes novidades. Mas o livro não é sobre lógica ou obviedades. O livro é sobre solidão. Sobre refletir a própria dinâmica de vida e a dificuldade de compreender a humanidade que existe em encarar a solidão quando nós só temos a nós.

E isso nós temos sempre. Não importa o quanto o amor pelo outro nos preencha ou o quanto a companhia do outro nos fortalece. Como se fosse uma sina, estaremos sempre a sós com a solidão.

Outro livro que está me fazendo companhia para pensar esse assunto é o "O dilema do porco espinho - como encarar a solidão", do Leandro Karnal.

O engraçado do livro é que ele reconhece que as próprias palavras fazem uma quebra desse momento solitário e acaba nos intrigando com a ideia:

"Estaria você lendo ou eu escrevendo porque somos solitários? Estivesse você entre amigos falantes ou envolvido nos braços da pessoa que ama, teria tempo para refletir sobre solidão em um livro?" (página 11).

Quem sabe a solidão, no fim das contas, seja um grande sentir. Um sentir-se só, sentir-se sem ninguém. Ninguém que nos preencha, ninguém capaz de entender todo o potencial da solidão das nossas decisões de vida.

Como comentei com você, eu gosto de livros que falam da solidão. Não me sinto menos só, só me sinto mais consciente de que - no fim das contas - a solidão faz parte de nós.


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