Não pertenço

Conversei sobre essa "roda de conversa" com minha psicóloga hoje.

E, na tentativa de contar a ela os detalhes dessa situação, me trouxe pra cá de novo. Me trouxe para esse momento de novo.

É estranho voltar aqui com a cabeça que tenho hoje. Vendo tudo o que vi, hoje eu enxergo vocês de forma tão diferente...

Hoje vejo o meu desespero para que gostassem de mim. Para que me aceitassem, para que sentissem que eu era uma de vocês.

Consigo ver o quanto estava doando e o que estava recebendo de volta.

Perceberam que vocês já falaram por quase duas horas seguidas? 

Conseguem perceber que não estavam conversando comigo? Que apenas estavam me contando as suas histórias, sem pensar em perguntar se algo que vivi se conecta com isso?

Eu fui a plateia de vocês. Deixei vocês falarem, fazendo perguntas para que se sentissem confortáveis para falar.

E o tempo passou. Eu ouvi, me esforcei pra encaixar. Céus, eu realmente queria que gostassem de quem eu sou.

Entre as minhas carências de conexões profundas, vcs não preenchiam nada. Iam embora e deixavam a sensação de um vazio espalhado por tudo.

Eu vi as fotos, ouvi as piadinhas, escutei as histórias... Eu fiquei presente enquanto vocês se esvaziavam em risadas e lembranças. Eu vi vocês colocando tudo pra fora.

Naquele dia fui dormir tarde pensando na solidão dolorida que é estar perto de pessoas assim.

Eu nunca me encaixei. Todos sabemos disso com facilidade.

Só melhorou quando aprendi. Nossa, como demorou, mas aprendi. Demorei pra interpretar o desinteresse, a falta de tempo, a indisponibilidade constante...

Não se enganem, não tô com saudade.

Esse texto é sobre pertencimento. E começa mais fácil quando admitimos onde não pertencemos.

Com a distância e a perspectiva do tempo, eu consegui ver meu desespero para me encaixar.

E agora aqui estou eu, ouvindo música e pensando naquele dia... 

Estou aqui pra dizer que só volto para dias como aquele quando eu precisar relembrar do porquê fui embora.

Isso é pertencimento.