necessidade de pertencimento



Uma das coisas que a gente aprende na terapia é não ficar tão desconfortável com perguntas. A gente aprende a escutar outra pessoa questionando as coisas que a gente diz e, o tempo todo, se lembra de que as perguntas fazem parte do nosso processo.

Dentre várias sessões com minha ex-terapeuta, ecoou em minha mente a ideia de que eu não me sinto pertencente à maioria dos lugares onde estou. E isso se estende a grupos que convivo, coisas que faço, coisas que vejo, pessoas que amo e por aí vai.

Em uma conversa, a Rebeca* me questionou sobre minha necessidade de pertencimento. E descobrimos juntas que eu não me sentia pertencente à minha família, amigos e grupos com laços afetivos que eu vou criando ao longo da vida. 

É claro que a gente precisava de muito tempo pra descobrir o impacto que isso causa em mim, mas é trabalho duro para mais décadas de terapia. Não?

Olhando pra trás eu percebo que durante anos eu me senti perdida entre as pessoas de modo geral. Com minha família, a sensação de estar no lugar errado é intensa e constante. Com frequência me pergunto "o que eu tô fazendo aqui?" enquanto ouço as pessoas falarem qualquer coisa.

Com o passar do tempo, esse sentimento foi ficando ainda mais forte. Foi ficando cada vez mais nítido pra mim que eu tenho a sensação de que estou deslocada. O problema dessa sensação é que você também vai se sentindo vazio. E o vazio cresce à medida que você toma consciência de que ele existe.

O resultado das sessões com a Rebeca pode parecer bastante óbvio: eu preciso buscar lugares e pessoas que preencham em mim a necessidade de pertencimento.

E é aí, pessoa que me lê, que meu caminho começa:
  • É a partir disso que eu preciso deixar ir embora pessoas e locais, abrindo espaços para mais qualidade nas relações. 
  • É a partir disso que preciso prestar mais atenção nas coisas que mexem comigo, que me fazem sentir em casa. 
  • É a partir disso que eu descubro a razão de sempre estar atenta nas conversas com amigos, sempre estar curiosa com o que estão dizendo e sempre estar buscando uma conexão com as pessoas.

Ao longo do tempo encontrei pistas de lugares e pessoas que me fazem sentir pertencente. Isso não significa que eu já tenha todas as respostas sobre as lacunas que existem em mim.

Ainda estou mais perto das perguntas. Das dúvidas. 
Por sorte, a gente aprende na terapia a não ficar tão desconfortável com as perguntas.

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Notas de rodapé:

*O nome da minha ex-terapeuta não é Rebeca. Usei esse pq gosto e também pra não contar o nome dela de verdade. Ela vai aparecer mais vezes aqui, mas pode ser que não goste de ser nomeada, quem sabe? Fiquei com preguiça de perguntar. Se estiver lendo o meu texto: um beijo, 'Rebeca'!

Observação: encontrei um artigo interessante sobre "necessidade de pertencimento", feito por uma galerinha na Universidade de Brasília. Talvez interesse você. Clique aqui para ler.

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