Unfriend



Eu não lembro quando foi que percebi que, quando a gente cresce, os amigos se vão. E também não sei se simplesmente percebi ou se fui notando as ausências com o tempo.

Um dia você está brincando em uma rua cheia de crianças. Vocês trocam ofensas durante uma briga qualquer, o dono da bola vai pra casa e é o fim. O fim do dia, não de tudo. Na manhã seguinte, vocês vão juntos pra escola e tudo está no lugar.

Mas você não percebe quando brincaram pela última vez. Ou quando assistiram TV, jogaram videogame, foram juntos ao mercado. Pela última vez.

A vida continua acontecendo, vem a parte adulta da coisa e você está lá, seguindo em frente.

Até que você percebe que fez amigos novos no seu primeiro emprego, no primeiro semestre da faculdade, nas aulas de teatro. Vocês se encontram, falam das coisas em comum e o ano acaba. Acaba o emprego, a faculdade. O teatro fica pra trás, assim como as aulas de música e de dança.

Pela internet, você descobre que uma amiga vai ser mãe, que um amigo vai ser pai. Descobre que alguém mudou de cidade, de cabelo, de gênero. Eu passei por tudo isso. Pela internet, você descobre que algum amigo morreu e deixa uma mensagem triste para desabafar o quanto dói.

Ao longo do tempo, eu percebi que os amigos vão ficando pra trás, eternizados nas fotos que a gente não revela. Tudo é digital e arquivado, separado em pastas que nem sempre a gente sabe onde está.

Lembro de quando essa ausência de amigos me afetou pela primeira vez. Eu tinha 16 anos e passava o fim de semana inteiro estudando, só pra não ter que pensar em como me sentia. Quando aconteceu de novo, eu tinha 22 e estava pronta para desabar.

De lá pra cá, toquei no assunto algumas dezenas de vezes. Reclamei de amigos ausentes, de presenças pela metade, de falta de profundidade e vontade.

A realidade é que, se analisarmos com honestidade e bondade, é claro que temos amigos. Bons amigos. É claro que as pessoas estão lá. Seja como for, do jeito que dá, elas estão.

Mas também, se analisarmos com honestidade, todos se vão. De jeitos diferentes, as pessoas vão embora. A gente deixa de falar nos grupos de whatsapp, deixa de convidar para eventos bobos ou para eventos que mudam a sua vida.

E sempre tem alguém angustiado quando percebe que o distanciamento tá acontecendo. Tem horas que é você, tem horas que você cansa e deixa o outro enxergar sozinho. 

O que fica quando os nossos amigos vão embora? O que fica quando desmarcamos viagens pra praia, pro campo, pra montanha? Quando nós brigamos, discutimos ou só perdemos o interesse?

O que fica quando não somos honestos, não pedimos perdão ou deixamos o orgulho nos sufocar? Ou quando pedimos desculpas e mostramos toda a vulnerabilidade, mas o dono da bola vai pra casa e é o fim?

Não tenho um final conclusivo pra esse texto. Ele é um misto de reflexões que já fiz com tantos bons amigos. E não é indireta pra ninguém, eu juro. 

Sou só eu sendo minha própria amiga, sendo honesta comigo e com o que eu sinto...
Não me somando aos amigos que ficaram pelo caminho. Eu ainda tô aqui. 

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